22 de out. de 2008

Os olhos dela brilharam

Os olhos dela brilharam. Esta era a única informação que ele tinha de suas últimas horas. Ou nem isso. Brilharam não pelo azul que continham, não pelos árduos meses confinada em um lugar que não sabia o endereço para ajudar a muitos que nem conhecia; não brilharam porque ela queria que fosse assim. Apenas o fizeram porque não houve como mantê-los fechados segundos antes de sentir seu interior degradar com a ardência.
E seu corpo não ardera porque estava queimando. Não pegara fogo por causa da alta concentração de energia localizada. Não estava daquela maneira porque era inevitável. Ela ardia de paixão. Não por um homem. Não por uma mulher. Não pelo mundo. Mas por seus ideais. Paixão aquela que seu ser compreendeu que era necessário nutrir, mas que seria inútil tentar implantá-la aos demais membros do grupo.
Seus olhos brilharam porque ela entendeu que não podia amar senão aquele conjunto de causas impossíveis que se acumularam em sua mesa com o passar dos meses. Queria que eles tivessem brilhado por deixar sozinho no mundo uma criança, como bem sabia que viria acontecer posteriormente com James e Lily, ou por ter amado alguém. Teria amado, teria se entregado, mas não houve tempo.
Sirius entendia.
Ela via os olhares acinzentados do Black para suas pernas, seu corpo, seu rosto. Sentia suas mãos ásperas ao tecerem delineações em seu rosto quando chorava por dentro, quando ele a via chorar mesmo de cenhos cerrados e olhar compenetrado.
Sirius teria se deixado amá-la se ela permitisse. Mas estavam em guerra. E na guerra, para Dorcas, só havia guerra. Sem espaço para amor. Sem espaço para pessoas. Apenas proteção a dar, apenas auxílio, apenas ideais para preencherem sua cabeça.
Sirius entenderia.
Ela morria por uma causa maior; James explicaria e Sirius a perdoaria. Ele sempre perdoava. Mesmo que não quisesse, mesmo que não conversasse mais com ela. E agora, também, não fazia alguma diferença se ele o faria ou não. Ela estava morrendo - e não sentia dor. Em breve todos aqueles Death Earths estariam em Azkaban, e sua luta não seria vã.
Dorcas já estava morta, quando Peter traiu aos Potter, quando Sirius foi para Azkaban, quando Bellatrix foi pega e Harry deu a trégua de 13 anos para o mundo.
Lily chamava ao pequeno de seu filho, enquanto ele era nada mais do que fruto do que Dorcas Meadowes havia idealizado muito antes.

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