4 de mai. de 2008

o olhos dela

Dois pontos. Dois azuis.
"Não, papai, eles não eram azuis!"
"Dá licença que sou eu quem conta essa história?"
"Então conta certo, oras".
"A senhorita só tem quatro anos e não pode reclamar de como conto a estória".
"É HIStória, papai".
"Quê?"
"É história, com h no começo. É de verdade, não é?"
"Sim".
Eram dois pontos de azuis e verdes, misturando-se constantemente e sem deixar qualquer cor nítida.
"E eles tinham ternura".
"Filha, se você continuar atrapalhando o papai, eu não vou conseguir terminar a história".
"Desculpe e prossiga".
Duas pedras de aquamarim que se iluminavam sozinha em uma freqüência diferente de qualquer coisa que possuísse freqüência. Eles eram singulares e pertenciam a ela.
E quando esse tom de ciano se prendia em alguma coisa, não dava para saber se ela realmente olhava aquilo ou se só estava passeando os olhos pelos detalhes, sem ver.
"Como assim, papai?"
"É... bem, não dava para saber se ela enxergava as coisas porque queria ou se só fazia isso porque tinha olhos. Entendeu?"
"Não".
"Bem, então risque essa parte, ok?"
"Não!!! Ficou bonito. Deixa".
Os olhos dela possuíam energia e isso era inalienado. Quando se olhava para eles, diretamente, era possível sentí-la, vê-la ali dentro dos dois orbes, mas nunca, em hipótese alguma, sentí-la dentro de si, como uma ponta de ligações.
Não havia nada que ligasse eles e o mundo.
"Pára, papai!!!! A história não é assim!"
"Sim, filha, ela é assim".
"Não é!!!" Um choro. "Ela era bonita e inteligente, papai!!!!"
Mas eram tão bonitos...
"Cade a minha mamãe, papai?" Os olhos do rapaz tremem.
"Sua mamãe está em cima".
"Não, papai... a minha mamãe... de verdade".
"Cecillie, sua mamãe é a sua mamãe de verdade".
"Papai, nem você e nem a mamãe têm olhos dessa cor". Aponta para os próprios olhos.
"Tem sim, ó!" Teddy muda a cor dos olhos e a menina ri.
Ela se dá por satisfeita e aceita ser carregada pelo pai, para dormir - mesmo que ache extremamente cedo. Teddy a leva até o quarto e, ao pô-la debaixo das cobertas, pergunta se pode apagar a luz.
"Deixa a luz do abajur acesa, papai?" Ele sorri. Claro que deixa. Beija a testa da filha e sai do quarto após apagar a luz.
Cecillie espera o pai descer o primeiro ramo de escadas. Descobre-se e vai até a estante de fotografias do corredor. Segura firme entre as mãozinhas um porta-retrato cor de ébano e desliza os dedinhos sobre a foto.
"Boa noite, mamãe". E beija o vidro que está sobre a foto.
"Pensei que seu pai havia posto você para dormir". Cecillie vira para a porta do fim do corredor e depara-se com a imagem sonolenta de Victoire.
"Eu só queria dar um beijo de boa noite na minha madrinha, mamãe".
Victoire caminha até a filha e, ao mesmo tempo que segura a filha no colo, firma o porta-retrato na mão. Leva a menor para o quarto, deseja-lhe boa noite e fecha a porta ao sair. Olha o porta-retrato e o formigamento em suas entranhas volta.
Não, agora não tinha com o que se preocupar. Dominique estava morta.


Um comentário:

Morgana Onirica disse...

meu coração se encheu de dor, agora. porque é estranho pensar que dominique está morta. simplesmente estranho que a filha dela com o teddy agora seja a filha de vic e de teddy. é estranho pq parece aceitável e até mesmo possível...

=**