28 de jan. de 2008

Revelação

Ok! Eu me rendo! Meu nome não é Noah Black, não sou uma escritora bem-sucedida, não possuo a maior nota de redação da turma, meu professor diz gostar do que escrevo, mas teima em não me beneficiar por causa disso. A minha tara por livros é compulsória e totalmente inexplicada - uma vez que, ao vasculhar meu passado, não encontro o ponto de partida para tal ato. Minha preguiça em lê-los supera a minha vontade de. Meus princípios e ideais são tão fracassados quanto as minhas notas em química e minha abominação por ignorancia não supera meu desgosto para com exatas. (E isso é incrível).
Chamo-me Bruna, uma sonhadora realista que deseja ir para Curituba a fim de estudar na federal do Paraná. Ama literatura, mas sonha há dois anos com o curso de filosofia. Sabe que esse rumo não é certo e tão menos lucrativo, e várias vezes já pensou em abandonar o lado humanista para o biológico. Afinal, educação física deve ser o máximo. Mas, em outros raros momentos, já se imaginou sendo uma empresária de grande sucesso, uma atriz de fama internacional ou uma escritora impecável.
Tudo sonho.
Eu, Bruna, idolatro meu pai, adoro (de venerar) minha mãe e não compreendo meu irmão. Prezo a união da minha família inteira e bem sei que isso se extinguirá em um futuro próximo. Sei que a época de fazer do meu irmão alguém mais próximo já escapou pelo tempo; hoje, ele é apenas um estranho um pouco menos desconhecido.
Minha mãe é a base que eu não consigo me imaginar sem. Sei que ela é a única pessoa que realmente me conhece e eu não preciso fazer pose perto dela. Não sei se é resultado do entrelaçamento do cordão umbilical que me ligava a ela antes de eu ter uma forma humana passível de ser tocada, mas ela sabe todas as minhas falhas como pessoa. E isso é muito bom.
Meu pai é o meu herói. Invejo-o ao mesmo tempo que o idolatro. Ele acredita que sou alguém sem grandes defeitos, mas minha mãe bem sabe que meus defeitos são os piores. Sei que ele tem uma falsa imagem da caçulinha dele, e tento consertar isso. No entanto, não sei se estou pronta para destruir essa ilusão paterna para que ele possa descobrir que possui um demônio passivo em casa.
Essa sou eu. Eu disse que não era a Noah. A Noah é alguém que, toda vez que fecha os olhos para dormir, imagina cenas e mais cenas e, então, desiste de dormir. Levanta rapidamente e corre para furtar, por breves minutos, o caderninho cor-de-rosa da Bruna.
A Noah é a verdadeira culpada do caderninho estar acabando.
Ela é esperta e inteligente, tem milhares de idéias para fic de Harry Potter e os demais. Ela sim merece algum tipo de reconhecimento. Não eu, a Bruna. Porque eu, Bruna, não sou uma pessoa muito boa. Não, não sou. Já idealizei um enredo para uma história narrada em primeira pessoa em que o narrador-personagem conta de como enlouqueceu por pura inveja.
Não o escrevi. Achei auto-biográfico demais.
Entretanto, já escrevi A Menina que Queria Voar. Não é muito bom, mas o enredo é interessante. Uma menina que foi posta em um sanatório devido à (vã) tentativa de pular da sacada de seu quarto. Lá dentro, ela mostra sua lucidez de forma insana - ou seria o contrário? -, e conta os seus sonhos, medos e receios. O Final é o que eu esperava, mas achei meloso demais. Quem sabe, algum dia, possa torná-lo um livro.

A Menina que Queria Voar
por Bruna Vollet.
Com direito a pronúncia correta do sobrenome francês: Vollê.
Bem, ninguém nunca me disse que eu não poderia sonhar alto o bastante. As quedas dos sonhos são as mais doloridas, mas também são as mais prazerosas porque não há nenhuma lei física agindo sobre elas.
Droga, acabei de pôr em palavras que não sou a Noah...

2 comentários:

Morgana Onirica disse...

e não somos todos nós um emaranhado de outras pessoas, algumas desconhecidas, outras mais próximas dos nossos ideais?
você é a noah e nem por isso precisa deixar de ser a bruna. acho que é esse o grande dom de quem gosta de escrever: conseguir vivenciar o que cada personagem que criamos/nos apropriamos consegue nos proporcionar.

Morgana Onirica disse...

ah, só pra constatar: eu me identifiquei muito com o que você escreveu.
sabe que eu até tinha desistido de escrever alguma coisa quando uma professora de português me disse que minhas estórias eram deveras fantasiosas? ela disse que assim nunca ia me sair bem em uma narração, ou uma dissertação.
chorei um bocado naquele dia...