14 de out. de 2007

Feito Ácido


Ouvia a cada palavra sentindo algo aflorar na boca do estômago e crescer, consumindo-a, até a gargante. Todos os relatos e a voz, hoje rouca, mais masculina, era abafada. Talvez escondia o rosto entre as mãos em forma clara de arrependimento. Mas ele não se arrependia - e ela sentia raiva pelo amigo.
- Arrependeste ao menos?
Observou a cabeça dele balançar, infimamente, negando qualquer coisa.
- Como nãoo?!
A voz crescera de tal forma magoada que a própria desconhecia. Eram amigos, ele e ela, muito antes de tudo aquilo, mas também era amiga daquele que não se fazia presente.
- Eu... eu amo ela.
- Ama? Isto está longe de ser algo viável, racional e plausível! Por anos ele a amou primeiro e ela retribuiu...
- Não grites comigo, miúda. Vim até aqui pedir por apoio - falou, sereno, como se todo o alarme que ela fazia era desconexo.
- Que tipo de apoio esperavas de mim?! Que passasse a mão por sua cabeça, agraciando todo este adultério?
- Pois ainda não é adultério...
- Adultério sim! Traição para com o seu único melhor amigo! - Bufavava em prol da raiva de um alheio conhecido. Andou de um lado para o outro já não mais ciente se ainda respirava. - Corrompeste a única coisa que o nutria.
- Ela também quis...
- NÃO DEVIAS TER INSTIGADO!
- Tu tens ciúmes?
- Tenho raiva! Raiva de acreditar que tu jamais ousarias fazer algo parecido com isto para com ele e ainda mais raiva por saber que isso nem ao menos te dói à alma!
- Ele não foi fiel a ela...
- MAS TU TINHAS DE SER A ELE!!! O cara que não se importou se tu és cria de uma sangüinária aristocrata ou de um ignorante a mercê da sargeta. O cara que te chamou de irmão por dez anos! E isso não é ácido em tua consciência! - Gritava adiante dele, gesticulando e revelando o sentimento já tão bem declarado na veia que lhe saltava ao pescoço. - E ele nunca a traiu.
- Eu não me arrependo.
- Então por que estás aqui a contar tais coisas a mim?! - A voz estava mais controlada, mas longe de ser menos séria. - Conte a ele.

Obs.: Queria uma imagem que demonstrasse raiva. Escolhi o trilho porque ele divide a imagem em dois. Em ambos os lados há as mesmas coisas, mas nada é igual - como o que a personagem sentia; pena e raiva.

Um comentário:

Morgana Onirica disse...

O.O
estou louca para ver como este trechinho vai se transformar em uma fic...
*cantarolando e dançando algo bizarro*